e nós, como seria se perdêssemos o nome à chegada?
Projecto de Design de Comunicação V

Eram cerca de meio milhão que chegavam ao lugar de onde outrora haviam partido. As imagens da espera, da chegada, do caos e desorientação de quem teve que deixar tudo para trás podiam ser imagens de agora, na sua similitude com as actuais vagas de refugiados que chegam à Europa. Naquela altura, os que chegavam eram apelidados de “desalojados”, “fugitivos”, “refugiados”, mas o termo que se sobreporia a todos os outros, com o qual ficaram automaticamente rotulados, era o de retornados. Sobrepunham-se estes rótulos aos próprios nomes, à identidade de cada um? Uma Maria tornava-se “a Angolana”, outra era chamada “a preta”. Para responder a uma pergunta, podia acontecer a professora não chamar o João ou o Manuel, mas sim enunciar: “retornado, responda”. Tomadas como pejorativas ou não, as alcunhas e denominações iam consumindo, de alguma forma, os seus nomes, as suas identidades.

Na condição de retornados, de refugiados, e segundo o peso que os termos acarretam, perderam estas pessoas o nome, a identidade individual? E nós, como seria se perdêssemos o nome à chegada?